Curvas
Nas dobras de um lençol amigo onde dormi, vi curvas convidativas que me falavam de delícias.
Vi essas curvas pelo vidro do carro, quando corríamos na estrada entre florestas e montes. Curvas que se movem sem parar, no caleidoscópio suave e delirante da vida real.
Vejo-as no pão que parto com a mão, na manteiga e na geleia. Curvas, cores e reflexos no mel.
Ao movimento do olhar, as cores se misturam mal, umas sobre as outras, lutando para sobressair. A luz e a sombra também, aos nossos olhos disputam uma impossível soberania.
Meu espelho de aumento, quando quero ver melhor, deforma as formas e cria perspectivas irreais não menos belas que as originais.
Nas plantas, principalmente nas flores, vejo a dança de seu crescimento, invisível ao nosso sentido de tempo. Mas se vem um vento, é harmonia pura o seu dançar. Em suas formas naturalmente curvas, vejo a inteligência da vida procurando o alimento, procurando a luz.
Enfim, procuram um relacionamento estável com seu derredor. Cada torcida de caule, cada dobradura de folha ou concavidade de pétala obedecem à lei da luta sadia pelo direito à existência.
Quantas sementes nunca chegam a brotar para que apenas algumas ocupem espaço tão preponderante em nossas vidas! Sim, dependemos delas, não só do oxigênio que purificam, de seu perfume e do alimento que nos proporcionam.
Dependemos de sua incrível influência positiva pela visão de sua imagem estranha, que supera qualquer fractal ou algoritmo humano e nos transmite subliminar e infalivelmente as coisas divinas da Criação.
Que fria seria uma casa sem plantas!